quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

"Leitura, evento ou processo formador de leitores", de Walmor Santos

O escritor e editor Walmor Santos traz abaixo uma reflexão que pode soar até repetitiva, entretanto, temos a obrigação, como cidadãos, de exercermos nosso olhar crítico sobre eventos que, em princípio, incitam à leitura como processo transformador, mas que, em muitos casos, são apenas mais uma desculpa para promoções mercadológicas que tornam o livro apenas mais um objeto de consumo, constituindo, assim, por assim dizer, eventos; sim, eventos de fato - não "de letramento", porém eventos sociais, literalmente -, ou seja mais voltados à ideia de aglomeração e festa do que propriamente um estimulante à prática de leitura. Além disso, há sempre essa dura realidade do analfabetismo funcional no Brasil que deve ser seriamente combatida, ainda que esse discurso soe repetitivo.

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A crise na Educação passa pela leitura. Por quê?

Inegável, concordam todos, a leitura é ferramenta auxiliar para todas as matérias por trabalhar com a leitura, a interpretação e a escrita. E afirmam Prefeitos, Secretários de Educação e professores: é fundamental ensinar a ler.

Igualmente inegáveis são os péssimos índices de avaliação da qualidade da leitura nas escolas, como também os das avaliações diversas efetuadas pelos governos federal e estaduais.

Mas outra pergunta se impõe: Quando a Educação esteve melhor? O que ocorre, então, que justifique os índices deficientes?

Os saudosistas continuam afirmando que o passado, em relação ao presente, era muito melhor. Agarram-se em axiomas que não resistem ao mínimo argumento. E justificam com exceções de leitores ou de professores daquela época... Esquecem a terrível verdade que a boa educação no passado estava nas mãos de uma minoria. Da elite, claro.

Hoje, como nunca antes, os professores dispõem de ferramentas que antes jamais tiveram. Da Informática às oportunidades de qualificação propiciada por secretarias municipais, estaduais e pelo governo federal, presenciais ou à distância.

Mas que crise, então, existe? É exatamente essa qualificação proporcionada aos envolvidos com a Educação que dá novos parâmetros.

A crise está, pois, em se querer mais qualidade e acreditar que isso é possível. Porém, um dos calcanhares de Aquiles para uma Educação ideal passa pela leitura, ainda considerada como evento por grande parte do sistema educacional.

Eventos... muitos ainda realizam feiras e encontros literários como atividade circense, de pouco resultado na formação do leitor. Gasta-se muito com shows para atrair público à feira, mas que não faz compradores de livros e menos ainda leitores. Porém, verba para adquirir livros e os distribuir para a comunidade leitora inexiste (com exceções, é claro!).

E os autores se apresentam em eventos como ETs. Já que não foram lidos ninguém tem interesse em questioná-los ou em ouvi-los.

Leitura é processo. Ler é muito mais do que uma atividade esporádica, mais do que uma atividade festiva, sazonal.

Ler deve ser processo contínuo e permanente, que não dependa da vontade de poucos e heróicos professores, ou da caneta do prefeito. Ler é processo que exige o compromisso e o envolvimento de secretarias, direções, professores, pais e alunos.

Ler, ainda que ler seja processo prazeroso de transformação social, é atividade recriativa, não recreativa; com leitura e interpretação livre, embora inspirada pelo bom professor; Leitura e recriação em outras artes, pois a falta de criatividade é característica da maioria dos alunos egressos do Ensino Médio e que não conseguem contextualizar: o leitor, o livro, a família, a sociedade e as diferentes mídias; ler é formar cidadãos críticos...

Assim venceremos a realidade: este é um país com 3 analfabetos funcionais em cada 4 adultos... Muitos saíram da escola há pouco tempo.

Um comentário:

GuidjeLeGamba disse...

Boa noite. A professora Carol (sou aluno do Fênix) indicou o blog e passei para dar uma olhada despretensiosa, mas resolvi comentar porque gostei desse texto...

É verdade q o analfabetismo funcional é majoritário mas antes disso: ele é crônico ou está arraigado nos nossos conceitos do q pode ser diversão. É preciso gostar de ler para que se leia com mais freqüência. E a tendência a se distrair com outras fontes de entretenimento hj em dia é muito forte: o apelo visual de um game ou de um filme 3D suplanta o imaginário d cada um...E a leitura acaba por não ser uma opção.

Sinceramente, faz muito tempo q não compro nada na feira do livro de POA, mas normalmente acabo visitando-a. Apesar d concordar q o evento é quase uma "atração circense", em segunda instância ele cria uma atmosfera integradora e transforma, talvez, a possibilidade do mundo imaginário q os livros provém em algo mais tátil, mais ou menos como pôr as mãos no controle do Playstation, mesmo antes d ligá-lo.

Na minha humilde opinião, para se acabar com o analfabetismo funcional é preciso, antes d mais nada, fazer com q a leitura seja d fato mais uma opção d divertimento e não um ato "cult" d alguns poucos "CDFs". Pode ser q esses eventos não façam as pessoas saírem com dez calhamaços embaixo dos braços, ávidas por grandes leituras ao invés d bater uma bola com os amigos, mas pelo menos faz com q alguém cogite a possibilidade...