terça-feira, 21 de julho de 2009

"É uma festa, não um evento acadêmico."

A frase acima define muito bem a diferença que se coloca entre a FLIP e demais eventos que buscam essa necessidade de colocar em pauta a literatura. Trata-se, literalmente, de uma festa, como o próprio nome que ela leva já diz (Festa Literária Internacional de Paraty). Mas até que ponto uma festa pode contribuir para uma discussão literária? Essa é a grande questão, pois, afinal, não existe forma melhor ou pior de discutir a literatura e, o aspecto mais importante, discutir o corpus literário, não é, afinal, mais ou menos importante do que, efetivamente, ler.

As palavras do conferencista de abertura do evento Davi Arriguci Jr. ilustraram muito bem do que se trata a FLIP e, logo no primeiro dia, tornou-se muito nítido o que tínhamos ali: na principal praça da cidade, uma biblioteca infantil gabaritada, livros pendurados nas árvores, autores famosos circulando pelas ruas, cordelistas recitando seus versos, uma infinidade de palestras gratuitas acontecendo ininterruptamente, projetos dos mais variados divulgando seus trabalhos em vários estandes... Enfim, o que diz Arriguci: "um evento que valoriza a necessidade da leitura". Parece uma frase simples, mas perceba a sutileza: o crítico e professor, em suas palavras (e como dito posteriormente), coloca que se trata de uma necessidade que se sobrepõe, inclusive, ao ato de escrever, é algo muito maior do que essa ligação intríseca entre escrita/leitura; ler é um ato solitário, sim, pois nos vinculamos intimamente com um livro, mas, da mesma forma, ler é um ato isolado, que fala por si só e que deve ser valorizado no e pelo momento da leitura. Discutir um livro, um autor e sua obra é algo fundamental, mas tornar o ato de ler algo tão natural quanto assistir TV ou ouvir música (também um lazer, portanto) é uma missão da FLIP e que deve não estar tão engessado em objetivos, expectativas ou cotejos com a teroria e a crítica.

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Para aquele que chega em Paraty, fica nítido que tal evento está no lugar certo: uma cidade que respira o século XVIII em suas construções, em que seu centro histórico compreende quase que todo o seu território, os livros descansam e a leitura está permanentemente viva entre as pessoas como um ideal perdido no tempo. Claro, há elementos de profunda relação mercadológica, uma vez que temos as falas dos autores "popstars" que, digamos, "puxam" o público para a cidade e promovem o turismo realmente - o turista que paga caro, que consome não só cultura -, mas, ao contrário das minhas próprias expectativas, não é um evento tão elitizado como esperava (o que por muitas vezes plantou uma séria dúvida sobre a validade de investir no mesmo); o espaço infanto-juvenil é extremamente valorizado, uma alegria só ver as escolas, as crianças e os adolescentes envolvidos em atividades simples, mas que fazem toda a diferença e, principalmente, um evento democrático por equilibrar a necessidade de custeá-lo (refiro-me às palestras pagas em que, não sendo estudante, fica realmente caro ir à FLIP), associado também a uma programação aberta a todos (e aqui tenho a convicção de afirmar que se trata do "grosso" do evento).

Para quem é de Porto Alegre, há uma relação muito próxima com a forma como a Feira do Livro estruturou-se nos últimos anos, abrindo espaço para palestras e oficinas, por exemplo - exceto pelo fato de que a venda de livros não é o foco em Paraty. Essa proximidade dá-se, fundamentalmente, por essa relação que há com a euforia pelo livro, uma euforia perdida com o advento de tecnologias e chamarizes que diminuíram o público leitor nessa nova sociedade pós-moderna. Neste sentido, é nítido o esforço da Festa Literária de Paraty em agradar as crianças (e agora com foco também nos adolescentes), pois nelas reside a esperança de termos leitores que manterão aceso o gosto pela literatura em todas as suas formas (na oralidade também!) e, sejamos honestos, é isso realmente o que importa, afinal de contas é uma festa, e ninguém sabe fazer festa melhor que eles.

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