segunda-feira, 22 de março de 2010

O que é LITERATURA?

Calma, caro leitor, não pretendo, em uma simples postagem, resolver essa indagação que atormenta teóricos e preenche capítulos. Quero, apenas, socializar algumas reflexões e citar alguns trechos que podem auxiliar aqueles que se preocupam com essa discussão.
Uma das primeiras respostas refere-se ao USO da LINGUAGEM. A linguagem literária seria uma “violência organizada”, como disse um crítico, ou seja, prioriza o desvio do uso prosaico, cotidiano, para chegarmos ao estranhamento do leitor, isto é, o leitor é, inevitavelmente, levado a observar a linguagem disposta diante de seus olhos. A isso podemos das o nome de LITERARIEDADE.
Outro teórico afirmou que devemos modificar a pergunta: ao invés de “o que é literatura?”, poderíamos preencher “quando é literatura”, pois, assim, segundo ele, fugiríamos dos binarismos. De um jeito ou de outro, fato é que a literatura é uma disciplina curricular e que, infelizmente, muitas vezes, é apenas na escola que a conhecemos.
Quando a trajetória é essa, apresentam-nos, jovens adolescentes do Ensino Médio, a autores canônicos, os famosos nomes da HISTORIOGRAFIA LITERÁRIA (modo que organizamos os períodos literários ao longo da linha histórica). Isso seria um problema? Muitas vezes, sim, visto que ler “Os Lusíadas” não é, de modo algum, uma tarefa fácil. Sendo assim, muitos futuros leitores sentem-se assustados e passam a odiar literatura – mesmo que ainda não a conheçam.
Literatura, portanto, não é apenas historiografia literária, conjunto de características somados ao período histórico; é, quem sabe acima de tudo, a experenciação da leitura, a FRUIÇÃO. É claro que para realizarmos esse ato de fruição, principalmente no âmbito escolar, é importante, sim, conhecermos estruturas de gênero (os gêneros literários) e constituições historiográficas. É pensando nessa realidade que um teórico afirmou: “literatura é aquilo que se ensina na escola”. No fim, a resposta à indagação inicial, o que é literatura, é quase esta – a escola determina o objeto literário.
Bom, a pretensão era iniciar reflexões e criar provocações. Nada de respostas! Para encerrar, cito dois trechos de Antonio Candido.

“Chamarei de literatura, de maneira mais ampla possível, todas as criações de toque poético, ficcional ou dramático, em todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura, desde o que chamamos folclore, lenda, até as formas mais complexas e difíceis das grandes civilizações. Vista desse modo, a Literatura aparece claramente como manifestação universal de todos os homens em todos os tempos. Não há povo e não há homem que possa viver sem ela, isto é, sem encontrar em contato com alguma espécie de fabulação”.
Excerto do texto O Direito à Literatura, de Antonio Candido.

“A literatura tem uma função humanizadora, isto é, tem a capacidade de confirmar a humanidade do homem. (...) Um certo tipo de função psicológica é talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura. A produção e fruição desta se baseiam numa espécie de necessidade universal de ficção e de fantasia, que decerto é coextensiva ao homem, pois aparece invariavelmente em sua vida, como indivíduo e como grupo, ao lado da satisfação das necessidades mais elementares. (...) Ela (a literatura) não corrompe nem edifica portanto; mas trazendo livremente em si o que chamamos o bem e o que chamamos o mal, humaniza em sentido profundo, porque faz viver”.
Excerto do texto A Literatura e a Formação do Homem, de Antonio Candido.
E pra ti, leitor, o que é literatura?

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