terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Tempo de mar... E de poesia.

Como no amor,
morre no mar
quem sabe nadar.

Marlon de Almeida

O tórrido calor da cidade grande nos faz por vezes esquecer o poder inspirador da brisa marítima e do descanso que nos proporciona o ambiente litorâneo. Ou, pelo contrário, ao invés de nos concentrarmos excessivamente no desconforto proporcionado por essas monstruosas temperaturas na metópole, ficamos, na verdade, descontroladamente atraídos por uma ida à praia para descansar. Uma boa oportunidade de relaxar nesses dias quentes, na cidade, no litoral, ou seja lá onde for, é ler um bom livro, e folhar as páginas e os poemas de "Prosa do Mar", de Marlon de Almeida, nos transporta diretamente para esse recolhimento das boas praias e do universo mítico dos pescadores mais tradicionais.
Há um aroma delicioso de maresia na leitura dos poemas de Marlon, que atinge uma maturidade literária impressionante com este livro, lançado em Dezembro último pela editora 7 Letras, que segue os passos de uma obra que já vem sendo sedimentada desde meados dos anos 90. Se em "Malabares, ou O Clube dos Incomparáveis" o autor demonstrava uma total liberdade ao circular pelos ambientes urbanos mais prosaicos, aqui, neste novo momento literário, o mar e seus elementos são um desvio para outro universo ainda mais voltado à observação atenta das coisas simples, por sua vez recheadas de poesia.

"Mestre José bebe cachaça no bar:

Nunca mais vou amar.
Nunca mais vou a mar."

Marlon parece travestir-se de pescador, de "homem do mar"; sente suas dores, seus amores, mas é, fundamentalmente, um observador deste meio, de aguçadíssima sensibilidade; alguém que quer aprender com as ondas e um ritmo praieiro bem diferente do qual estamos acostumados a fazer referência: aqui há a tranqüilidade de um universo quase rural, onde tal bucolismo reflete-se em um epicurismo marinho, cheio de alegorias que, de certa forma, só terão seu ritmo modificado pela incursão na obra, por parte de seu autor, de um cordel, estilo lírico muito estudado pelo escritor durante sua carreira acadêmica e no qual tem muito o que revelar ainda.

"No tempo de antes,
sem redume ou tarrafa,
pescador desentocava cardume de olhos,
matava tainha de mão
e aguda taquara.

No tempo de não hoje,
aumentou-se o recurso da pesca,
minguou-se o pescado:

o mar em si mesmo ancorado,
como sangue morrente amanhã."


Para mim, que tive a oportunidade de ser aluno de Marlon de Almeida na adolescência – fã confesso de “Malabares” - , é uma grata surpresa poder contar com sua poesia-prosa que indico aqui sem receios de estar falando de alguém que conheço, pois seu talento está muito acima disso. Trata-se de uma ótima oportunidade para conhecer um dos grandes poetas gaúchos em, talvez, seu melhor momento, sua melhor forma, e deixar-se levar pelo ritmo da calmaria marítima de Marlon de Almeida e de sua prosa que, na beleza do mar, vira poesia, de versos com sons de ondas e gaivotas na beira da praia.


*Para adquirir "Prosa do Mar", é possível comprá-lo, em Porto Alegre, nas livrarias Palavraria (Vasco da Gama, 165) e Bamboletras (Lima e Silva, 776, loja 03) ou pelo site da editora 7 Letras (www.7letras.com.br).


Um comentário:

Carol'cut disse...

óóóó, amigo-crítico literário!!!
muito bom teu texto, fiquei com vontade de ler!!!