Na primeira postagem deste blog (que pode ser vista ainda, caso alguém esteja interessado), foi colocado um brilhante texto de Machado de Assis: "O Escravo Pancrácio", publicado originalmente numa coluna de crônicas do escritor. Pois bem, foi visto aqui também que a releitura do conto do mesmo autor, "Pai Contra Mãe", no filme "Quanto vale ou é por quilo?", de Sérgio Bianchi, torna mais evidente a ligação deste escritor com o seu tempo, visto que o episódio retratado no filme trata-se de um caso real documentado (um pequeno trecho dessa releitura, disponível no youtube, também consta entre as postagens abaixo). Então, para fins de comparação com o conto/crônica de Pancrácio, o escravo, segue abaixo um trecho elucidativo:
"A literatura imita a história no testemunho do fazendeiro Paula Sousa que comentava com seu colega baiano:
'Desde 1º de Janeiro não possuo um só escravo. Libertei todos e liguei-os a casa por um contrato igual ao que tinha com os colonos estrangeiros (...). Bem vês que meu escravismo é tolerante e suportável (...). Dei-lhes liberdade completa, incondicional, e no pequeno discurso que lhes fiz, falei-lhes dos graves deveres da liberdade lhes impunha e disse-lhes algumas palavras inspiradas no coração...No ponto de vista literário, fiz um fiasco completo por que chorei também'.
Essa carta, entre outras, somou-se a editorais e artigos publicados em abril e março de 1888 com o mesmo teor apresentando da concepção de liberdade reinante entre os senhores de escravos em pleno momento abolicionista."
CASTRO, Hebe M. Mattos de. "Laços de família e direitos no final da escravidão". In: ALENCASTRO, Luiz Felipe de. História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p.365-366.
2 comentários:
(Libertei todos e liguei-os a casa por um contrato igual ao que tinha com os colonos estrangeiros)
Ele quis dizer que contratou os escravos ou largou-os a deriva?
É uma ambigüidade interessante de analisar-se, mas acredito que aqui o que está expresso é a relação hipócrita que se estabelecia na alforria dos escravos, deixados "à própria sorte", eram, muitas vezes, mantidos como empregados das casas, como "homens livres" numa relação que freqüentemente retomava práticas dos tempos de escravo.
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