terça-feira, 30 de julho de 2013
Fernando Pessoa, heterônimos e "O Guardador de Rebanhos".
quarta-feira, 8 de maio de 2013
Aula sobre intertextualidade
http://www.4shared.com/office/aOEW1aWx/Intertextualidade.htm
Pré-modernismo
http://www.4shared.com/office/cQMW5gW4/Pr-Modernismo.html
Aproveite para ver uma antiga postagem aqui do DEVANEIO LITERÁRIO feita pela Caroline Becker sobre Jeca Tatu, o icônico personagem de Monteiro Lobato que se tornou figura marcante do imaginário nacional e que surgiu, igualmente, no período pré-modernista:
http://www.devaneioliterario.blogspot.com.br/2008/09/monteio-lobato-foi-uma-personalidade.html
quinta-feira, 4 de abril de 2013
Aula sobre Vanguardas Europeias
http://www.4shared.com/office/kknlo8Rp/AULA_Vanguardas_europeias.html
*Aproveite para conhecer os projetos, obras e propostas do Atelier Strey e do Realize artecoworking, do nosso amigo Lucas Strey.
Às margens da arte, muito perto das massas.
terça-feira, 31 de julho de 2012
Arte, lixo e grana: um diálogo subversivo.
sexta-feira, 6 de abril de 2012
O Poe nosso de cada dia
*Neste ano, estreará nos cinemas o filme O Corvo, com John Cusack, que
traz Edgar Allan Poe às telas com uma proposta que lembra Os Irmãos
Grimm, de Terry Gilliam: o autor é agora personagem, dentro de uma história
que lembra muito suas próprias criações, principalmente as do campo policial;
Poe é o contista que conhecemos, auxiliando a polícia na investigação dos crimes
de um assassino que mata utilizando referências de suas histórias. O filme
apresenta o escritor a um nova geração, o que se espera que crie, também, novos
leitores. (Confira o trailer: http://www.youtube.com/watch?v=RYgthg-SR2M
terça-feira, 3 de abril de 2012
Pastoreios
segunda-feira, 26 de março de 2012
"Sobrevivente", de Yuri Flores Machado
terça-feira, 20 de março de 2012
Beats na tela grande e o filme que o cinema esqueceu - parte II
segunda-feira, 19 de março de 2012
Beats na tela grande e o filme que o cinema esqueceu.
quinta-feira, 15 de março de 2012
14 de Março, Dia Nacional da Poesia - e eu nem sabia...
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece.
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
domingo, 12 de fevereiro de 2012
"O Artista" e a metalinguagem
Marcado pelo aspecto iconográfico da história do cinema, portanto, O Artista reforça uma tendência contemporânea nas artes que está ligada ao exercício frequente da metalinguagem. Ao contar tal história, a obra dá ao público a possibilidade de confrontar a mudança que serve de base ao roteiro, visto que o próprio filme é mudo. Naquela que talvez seja a grande sequência de O Artista (na minha opinião, genial), o protagonista “descobre”, por assim dizer, estarrecido, o som, e percebemos e compartilhamos, igualmente, o ponto de vista do artista que agora se vê deslocado e ultrapassado; a primeira cena também merece destaque: em um dos “filmes dentro do filme”, o personagem de George Valentin (vivido brilhantemente pelo ator francês Jean Dujardin, que reforça nas caretas de ator canastrão de cinema mudo), é torturado por um algoz que apenas pede para ele que fale.
Ainda que tão marcado pelo excessivo grau de metalinguagem, O Artista se sustenta pela qualidade de seu personagem central e, principalmente, pelo envolvimento do mesmo com a personagem vivida pela atriz Bérénice Bejo. Naturalmente, não se trata de uma obra totalmente autônoma em função disso, pois sua forte ligação com as referências da estética cinematográfica são grande parte de sua estrutura. Esse tipo de jogo metalinguístico está muito presente nas artes na contemporaneidade, não só na narrativa cinematográfica, mas também nos quadrinhos e, em grande parte, na literatura. Neste último caso, trata-se de uma tendência que pode estar ligada a, no mínimo, três aspectos distintos: 1) uma certa “crise” na narrativa contemporânea, que parece não se interessar mais pelas “grandes” histórias – pelas grandes sagas que povoavam a literatura do passado (nenhum juízo de valor aqui); 2) uma forte tendência à narrativa autobiográfica, que frequentemente se utiliza dos personagens-escritores; e 3) o interesse mais do que presente (e, aparentemente, necessário para certos autores) de colocar em primeiro plano a manipulação dos limites da linguagem no seu próprio campo artístico, além de discuti-la.
Para além – ou aquém – de arroubos de criatividade de enredo, histórias mirabolantes e cheias de “trunfos” em sua narrativa, o uso da metalinguagem, em verdade, diverte. Arrisco até dizer que isso faz parte do forte grau de interação que todas as mídias e produtos artísticos parecem ter que carregar atualmente para terem destaque, onde, neste caso, interagir não está associado apenas ao conteúdo emocional e subjetivo. Propostas semelhantes ao filme de Michel Hazanavicius (que pode soar extremamente inovador para muita gente quando na verdade não o é) podem ser vistas em muitas outras obras de diferentes épocas e formatos, como o romance de Paulo Leminski Agora é que são elas, que li apenas recentemente, mesmo tanto tempo depois de conhecer bem a poesia deste autor que julgo brilhante. Uma espécie de “compêndio” de elementos da teoria da literatura tratados de forma paródica em uma narrativa um tanto caótica, o livro é uma diversão hilariante para quem domina certos elementos da área. Nisso, contudo, está sua limitação. Por outro lado, a proposta de um exercício de metalinguagem parece ser essencialmente esta: divertir e entreter iniciados, na medida em que também propõe algum grau de reflexão sobre o objeto artístico em discussão. Pode soar até pedante dizer isso: "iniciados", mas esta é a grande verdade nesses casos, onde quem não está familiarizado simplesmente não vê a mínima graça. Nesse sentido, para mim não há nada mais genial do que a obra do roteirista de histórias em quadrinhos Alan Moore: é visível em boa parte de seus livros o esforço por compreender os elementos estruturantes dos quadrinhos, principalmente no que tange a sua narratividade, seja no revisionismo do herói e do super-herói proposto em Watchmen, seja ao contemplar a tradição literária na série A Liga Extraordinária, uma vez que percebe nesta tradição, também, aquilo que, por sua vez, construiu o personagem de ficção nas HQs. O cinema de Quentin Tarantino e os filmes de Brian de Palma, por exemplo, são outras manifestações claras de que, paradoxalmente, a originalidade e a criatividade encontram-se na forma de juntar as peças de um mosaico de referências. Em grande parte, esta postura estética é, também, uma necessidade de entender o veículo com o qual se está lidando e os aspectos que envolvem a criação - e este, parece-me, é o ponto central de O Artista.
Acredito que o que mais interessa nesse tipo de tendência é a forma como tais obras parecem transpirar paixão por aquilo que discutem através de suas ligações internas e externas. E talvez seja isso que realmente importa: seja em tom de homenagem ou até mesmo a fim de desconstruir, há que se ressaltar que o exercício da metalinguagem exige um entendimento mínimo da mídia sobre a qual o objeto se sustenta; quando no primeiro caso - a homenagem -, entretanto, temos obras como O Artista, que está carregado de algo que falta a muitas histórias mirabolantes, virtuosísticas tecnicamente ou mesmo pretensiosas (esteticamente ou intelectualmente falando): é um filme com alma – e talvez só por isso mereça ser visto e revisto.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
"O Apanhador no Campo de Centeio": meu livro, minha narrativa de formação em todos os sentidos.
Se me perguntam qual é o “livro da minha vida”, digo sem pestanejar que são pelo menos três: Hollywood, de Charles Bukowski e On The Road, de Jack Kerouak, que direcionaram minhas principais preferências estéticas, e aquele que mais me mexeu com as minhas emoções: O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger. O livro de Salinger é tido por muitos como a obra que “inventou a adolescência” no mundo moderno, transformado pelas modificações do pós-guerra. Salinger e sua obra cristalizaram uma tipologia do romance (que se estende para outras formas narrativas) classificada como narrativa de formação. É característica marcante das histórias de formação a presença de personagens jovens mal tocados ainda pelo mundo adulto, influenciados permanentemente por rituais de passagem que marcam suas vidas a cada segundo; momentos de “iniciação” variados que vão desde a primeira festa, o primeiro beijo, a experiência de maturação sexual até o primeiro emprego, a saída de casa e o rompimento simbólico com as figuras materna e paterna.
Holden Coulfield, o protagonista de O Apanhador no Campo de Centeio, é a síntese da passagem do tempo, mas de um período muito específico da vida, que se situa, geralmente, entre os dezessete e dezoito anos de idade, passagem essa que, ritualisticamente, estabelecemos como a virada de uma vivência adolescente para o chamado mundo adulto. Na verdade, o início de uma nova vida, de fato. Essa “vida nova”, cheia de novas e maduras responsabilidades, assusta Holden. Diferentemente da grande maioria dos romances de formação de caráter juvenil, não há uma perspectiva entusiasta e eloquente acerca da novidade e da liberdade que a maturidade pode trazer no vislumbre de um “mundo novo” que estava obscuro para o personagem. As responsabilidades tão amedrontadoras que chegam para Holden não têm, necessariamente, a ver com trabalho, mas sim com uma sentida quebra de ingenuidade de um ser às portas do universo dos “grandes”; portas que ele deverá irromper, obrigatória e inevitavelmente. Nesse sentido, podemos lembrar oportunamente da canção da banda Engenheiros do Hawaii “Somos quem podemos ser” (composta por Humberto Gessinger).
Inicialmente, Holden, o personagem de Salinger, parece distanciar-se do seu presente, negar seus amigos e seu passado mais recente. Ao longo de sua trajetória de volta para o lar, lembranças cruzam seu caminho, algumas com as quais ele não gostaria de cruzar; outras fazem-no rever seus próprios conceitos, pois mostram-se incongruentes para com sua personalidade naquele momento presente; em outros casos, as experiências que Holden retoma são, simplesmente, inevitáveis e, muitas vezes, inusitadas. Tudo isso justifica a sua jornada em busca de lembranças ainda mais remotas, por fim chegando, portanto, à irmã caçula, Phoebe, talvez um símbolo de uma ingenuidade que ele nunca mais terá. A interpretação sobre essa grande metáfora que percorre o livro o tempo inteiro é muito bem vista no esclarecedor trecho em que, inclusive, podemos entender um pouco melhor o título quase intraduzível da obra:
“(...) fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos e ninguém por perto – quer dizer, ninguém grande – a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o que eu tenho que fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer. Sei que é maluquice.” (P. 168).
Em O Apanhador no Campo de Centeio, a jornada de amadurecimento (ou de negação desse processo) se dá na perspecitva de sua própria figura central, uma vez que o livro é narrado em primeira pessoa. Dessa forma, a experiência do protagonista se dá de forma extremamente subjetiva, até mesmo em seu profundo grau de melancolia, que pode ser visto, naturalmente, como algo enfadonho – afinal de contas, Salinger criou um personagem que não deveria ser muito simpático ao leitor. Assim, não se chegam aos arroubos impressionistas de figuras como o Sérgio de O Ateneu, de Raul Pompeia, ou da intensidade dos traumas da juventude vistos em obras recentes da literatura brasileira como Mãos de Cavalo, de Daniel Galera, e O Diário da Queda, de Michel Laub, exemplos interessantes de diálogo com isto que se define como narrativa de formação.
Quando penso em J. D. Salinger, lembro de um livro que ajudou muito em minha trajetória para que eu mesmo compreendesse quem, de fato, eu era. Ok, talvez não tenha sido tudo isso, mas sem dúvida foi uma obra que me tocou muito, e foi talvez uma das primeiras vezes em que pude sentir o que acontece quando a arte consegue dialogar verdadeiramente com o espectador, sem necessariamente facilitar esse caminho, ser simplista ou algo do gênero. Enfim, sou muito suspeito para falar. Li O Apanhador no Campo de Centeio pela primeira vez aos dezessete anos e, naquela época, acho que me parecia um pouco com Holden Caulfield. Talvez fosse apenas a idade, talvez o fato de ter saído recentemente da escola onde, apenas poucos meses antes, encontrava-me no Ensino Médio e tive que cair “de cabeça” na universidade, ainda em pleno desenvolvimento da minha personalidade.
Acredito que se veem muitos “Caulfields” por aí. Vemos muitos que, como ele, insistem em, imaturamente, buscar refúgio nas lembranças e demoram a encarar os fatos. Mas não vou mentir, tenho que dizer também que ser estupidamente nostálgico dá um certo prazer; ser um pouco “sonso”, um tanto amargo e ainda querer manter um pedaço de ingenuidade na nossa constituição que recorre tanto à racionalidade é um pouco saudável. Afinal, quem disse que a racionalidade não é também uma grande fuga?! O que espanta em Caulfield é sua espontaneidade em ser desta forma; acho que isso é o que o torna, pelo menos para mim, tão apaixonante – assim como é admirável e fascinante a fase da adolescência. O que é curioso é que a maioria dos leitores repudia Holden – e com razão: sua imaturidade, sua postura um tanto arrogante e questionadora de tudo tornam seu mundo algo muito sem graça, o grande paradoxo com o “mito da adolescência”: a fase das grandes experiências e descobertas. Aí está o grande mérito de Salinger ao fazer com que sua obra adquira uma vivacidade rara, o que nesse caso desconfio ser uma negação involuntária daquilo que fomos ou, muitas vezes, ainda somos.
Como todo fã, obviamente fico chateado quando alguém demonstra antipatia por Caulfield (com Salinger não, mas com seu personagem, certamente). Aí está o maior traço de espontaneidade e naturalidade dessa figura emblemática da literatura mundial: um personagem que consegue falar por si, quase que uma instituição dentro da arte literária, atemporal, mas que fala sobre um tempo que marca a todos e que deixa impressões sempre indeléveis. Não nos culpemos: nos traímos lendo o romance de J. D. Salinger, mas somente porque ele e Holden nos seduzem. Sim, Holden, muitas vezes, é um chato, entretanto, somos facilmente atraídos por sua esquisitisse e sua sensibilidade confusa, de forma tão contraditoriamente espontânea quanto o próprio protagonista de O Apanhador no Campo de Centeio se deixaria levar. Um exemplo prático: como professor, já trabalhei com O Apanhador no Campo de Centeio várias vezes; em geral, os alunos são unânimes em afirmar que a obra é ótima, mas o protagonista irrita-os profundamente; ao questioná-los sobre certas ações, chega-se quase sempre à óbvia conclusão, qual seja a de que, apesar de figurar em uma obra dos anos de 1950, Holden Caulfield está ainda muito próximo deles, daquilo que eles são. Afinal, o que essa reação em relação ao personagem tão frequente entre alunos que têm entre 16 e 18 quer dizer? Eu tenho minhas teorias, mas o fato é que o tempo de Salinger nas minhas aulas já passou, pelo menos por ora. Assim como ele me ajudou a crescer como pessoa, acho que faz parte de minha própria jornada de amadurecimento desvencilhar-me dele e procurar outras formas de ler a passagem do tempo através dos meus alunos.
Na vida de um professor, passamos por transformações constantes na medida em que nossa postura como educador modifica-se, afinal, ser educador, no sentido pleno da palavra, vai além de “professar” o saber: é lidar com os sentimentos, as ligações afetivas que se estabelecem com os alunos, e não há nada mais orgânico do que lidar com as emoções. Percebi isso apenas recentemente e não sei se o que estou escrevendo está claro... No último Dezembro, vendo uma turma de alunos que acompanhei durante três anos do Ensino Médio se formar, senti uma profunda tristeza e um certo vazio tomarem conta de mim, e talvez não fosse apenas pela turma em si... Foi aquele momento epifânico em que se sabe que algo mudou. Ao que tudo indica, havia algo simbolizado naquela turma também... Não sei, mas sei que com o velho Holden Caulfield aprendi de fato que na vida existem sempre momentos de mudança e eles são, muitas vezes, imperceptíveis, pois não surgem de forma objetiva. Aprendi isso quando tinha dezessete anos. Tendo O Apanhador em perspectiva, foi aparentemente fácil racionalizar sobre aquele momento, pois sempre fui uma pessoa que gosta de marcar as mudanças a partir de rituais de passagem. Naquela vez também parecia faltar algo e, na verdade, as lacunas estavam apenas sendo preenchidas por novas experiências. Reaprendo o mesmo agora.
Na vida de um educador, sua personalidade está contantemente vinculada ao seu ofício e não há como dizer que certas mudanças fazem parte tão somente do mundo do trabalho... Os mundos se confudem. E enquanto tento entender melhor as minhas próprias mudanças – emocionais, de perspectiva, etc. –, dessa vez farei o caminho contrário: vou me despedindo de Salinger como que para marcar mais uma passagem. Ele sairá das minhas aulas, como já disse, e assim minha leitura d’O Apanhador repousará nas antigas sensações. Pelo menos por ora. Pelo menos até o próximo desencontro.