quarta-feira, 1 de abril de 2009

Entre os Muros da Reflexão

Um minuto após os créditos iniciarem e as luzes do cinema surgirem, ouço “Que falação. Que filme mais chato!”. A frase foi enunciada por uma mulher, não sei de que idade, acerca do filme Entre os Muros da Escola. Antes de explicar o porquê da minha decepção, apresento a narrativa cinematográfica: produção francesa, inspirada em um livro de relatos, no qual François Bégaudeau, professor de francês, narra algumas de suas experiências profissionais.
Desde a estréia do filme, a crítica e os blogueiros têm indicado como principais êxitos da produção o seu hibridismo ficção-documentário e seu recorte social, colocando em foco a diversidade linguística e étnica da França. Essas são percepções essenciais e, de fato, traduzem muito da qualidade do filme.
Entretanto, ainda não tive oportunidade de ler alguma reflexão acerca do universo educacional construído na tela. A realidade apresentada é francesa, mas pode ser transposta, perece-me, a diversas salas de aula e escolas. Ao assistirmos ao filme, um verdadeiro diário escolar é construído, evidenciando a relação professor-aluno.
E se a recepção é importante, defino a minha: um verdadeiro “soco no estômago”. Há inúmeros filmes que colocam a docência como protagonista, desfilando, assim, personagens-professores que subvertem a ordem caótica de seus empregos, conquistando alunos e modificando realidades, imersos em determinação e criatividade. Na produção Entre os Muros da Escola, por sua vez, temos a oportunidade de conhecer um professor mais verossímil.
O educador de língua, no caso a francesa, não é um herói e não se contrói um herói para nenhum dos seus alunos. A relação retratada é cotidiana, sem exaltações. O professor apresentado parece dividir-se entre uma educação formal (voltada à nomenclaturas) e um educar que prioriza a valorização dos saberes dos alunos. Essa personagem-professor é verossímil porque erra.
Em meio ao turbilhão da sala de aula, onde vozes entrecruzam-se (e não esqueçamos que, no filme, não há trilha sonora), papéis permanecem em branco e alunos parecem simplesmente não conseguir alcançar a concentração, o professor, em um momento de descontrole, diz palavras ofensivas a duas alunas. A confusão instala-se. O desenlace, mais uma vez, não é heróico: temos um professor que não consegue pedir desculpas.
O filme é interessante porque oberva o universo escolar e suas limitações. Sabe-se que a educação possui inumeráveis problemas e tornou-se lugar-comum mencionar essa situação como um dos entraves ao desenvolvimento do País. No entanto, basta um filme reflexivo como Entre os Muros da Escola desfilar nas telas para comprovarmos que, na verdade, as pessoas não se preocupam com a educação. Não querem essa “falação”; querem, apenas, soluções. Como chegar a elas sem reflexão?
O assunto está em pauta e não interessa apenas aos profissionais da educação. Teoricamente, todos passamos pela escola. Se um filme como esse não conseguir suscitar reflexões, concluirei que muitas pessoas desejam, apenas, notícias sobre a educação – quantos professores e professoras sofreram agressões e em quais lugares. O x da educação é mais complicado do que se imagina e, infelizmente, há quem prefira deixar os problemas da escola entre seus muros.

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Fica a dica: assistam ao filme!